Traduzido e resumido por Ricardo Schneider Júnior e Alessandro A. Mazzola.
Com a propagação da COVID-19 em nível mundial, os serviços de radiologia tiveram que se adaptar, se preparando para o manejo de novos casos. Isto porque, inicialmente, o diagnóstico era feito pelos achados radiológicos de tórax, por conta da doença ser caracterizada por uma síndrome respiratória aguda provocada pelo vírus SARS-CoV-2.
Estes serviços se depararam com a necessidade de implementação de uma série de políticas e procedimentos como:
Atingir capacidade suficiente para contínua operação durante as emergências de proporções ainda imprevisíveis;
Auxiliar o cuidado dos pacientes com COVID-19;
Manter o diagnóstico radiológico e apoio intervencional aos hospitais e sistemas de saúde durante a pandemia.
O corpo editorial da revista Radiology reuniu, então, um time de radiologistas para desenvolver e implementar politicas de estruturação dos serviços de radiologia, tendo em vista a pandemia. Tais políticas têm sido desenvolvidas em conjunto com especialistas em controle de infecções dos Estados Unidos e Singapura, em seus respectivos sistemas de saúde.
Nesta iniciativa, há relatos de diversas estratégias adotadas por universidades e escolas de medicina responsáveis por coordenar hospitais nestes países. As medidas adotadas variam desde o investimento na educação das equipes, uso extensivo de equipamentos de proteção individual até formulação de protocolos de higienização específicos para as salas de imagem.
COVID-19 atinge o sistema nervoso: achados no encéfalo
Além dos efeitos respiratórios provocados pelo SARS-CoV-2, alterações neurológicas importantes vêm sendo observadas em pacientes infectados pelo vírus. De fato, este patógeno tem a capacidade de atravessar a barreira hemato-encefálica, bem como possui tropismo pelo tecido nervoso, replicando-se em neurônios e células gliais no nosso sistema nervoso central (SNC).
Atualmente, informações precisas em relação à ação do vírus sobre o SNC, bem como as alterações funcionais ou morfológicas provocadas pelo mesmo no encéfalo ainda são pouco conhecidas, ao passo que sintomas neurológicos são constantemente verificados em pacientes com COVID-19.
Na tentativa de tentar esclarecer estas questões, na França foi conduzido um estudo, por iniciativa da Sociedade Francesa de Neurorradiologia, em colaboração com neurologistas, intensivistas e especialistas em infectologia em 16 hospitais de todo o país. O objetivo era investigar e descrever os achados neurorradiológicos em pacientes com COVID-19 grave, identificando o perfil clínico/biológico destes indivíduos.
Foram analisados os achados de ressonância magnética (1.5 e 3T) de um total de 37 pacientes (30 homens e 7 mulheres com média de idade de 61 anos), todos diagnosticados com COVID-19 (confirmado por RT-PCR). As manifestações neurológicas mais observadas foram:
Alteração de consciência (73%);
Encefalopatia (27%);
Fadiga patológica pós sedação;
Confusão mental.
Além disso, um paciente apresentou convulsões. A taxa de mortalidade no final do estudo foi de 14%.
Quando analisados os dados de ressonância magnética dos pacientes com COVID-19, as alterações mais observadas foram anormalidades de sinal no lobo temporal medial e lesões hipertensas multifocais na substância branca, associadas a microhemorragias extensivas e isoladas. Além disso, a maioria dos pacientes apresentou lesões hemorrágicas intracerebrais associadas à piora do estado clínico. Abaixo, uma figura mostrando alguns dos achados de ressonância nestes pacientes:
Figura 1. FLAIR axial em diferentes pacientes com COVID-19. Superior esquerdo: Homem de 58 anos com alteração de consciência: hiperintensidades localizadas no lobo temporal medial. Superior direito: Homem de 66 anos com alteração de consciência: lesão ovóide hipertensa localizada na parte central do esplênio do corpo caloso. Inferior esquerdo: Mulher de 71 anos com fraqueza patológica pós sedação: hiperintensidades extensivas e confluentes na substância branca supratentorial. Associação com intensificação leptomeningeal. Inferior direito: Homem de 61 anos apresentando confusão mental: lesões hipertensas envolvendo ambos pedúnculos cerebelares mediais. (Fonte: Brain MRI Findings in Severe COVID-19: A Retrospective Observational Study - RSNA 2020)
Através deste estudo foi possível observar alterações e lesões neurológicas específicas provocadas pela COVID-19 no encéfalo, sugerindo a utilidade da MRI (1.5 e 3T) para a detecção e avaliação da extensão da doença nesta região. Embora a manifestação da doença no SNC seja menos frequente que no sistema respiratório, o uso da ressonância magnética pode auxiliar em um diagnóstico mais preciso para otimizar o tratamento nestes casos.
Para conferir os artigos na íntegra, acesse:
MRI&Beer #3 - Tórax na RM - 18/07
Faremos um evento virtual voltado para a RM de Tórax, COVID-19 e os achados em neuroimagem!
Nessa edição, abordaremos o crescente uso da RM para as patologias do Tórax, seus protocolos, novidades e também aspectos de imagem da COVID-19 com a organização e aula pelo Dr. Bruno Hochhegger.
Teremos também o Dr. Fábio Takeda que irá falar um pouco de aspectos da imagem do COVID-19 em neurorradiologia, eu irei falar um pouco do histórico da RM e sua relação com o tórax e os tecnólogos Guilherme C. Leite e William Miranda irão falar de protocolos.
O evento acontecerá no Sábado, dia 18/07, das 16h às 19h pela plataforma Sympla Streaming e as inscrições podem ser feitas aqui.
Não deixe de participar!
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